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18/01/2021
por Alceni Guerra
Alceni Guerra
Foto: Glauco Arnt
Em março de 1990, o Plano Nacional de Imunizações era uma piada no papel, pois com exceção da poliomielite, ganhávamos apenas da Bolívia e do Equador, na América do Sul. Nosso recorde era de 42% de cobertura vacinal.
Na primeira reunião com os secretários estaduais de Saúde, exigi que, junto com as gotinhas da poliomielite nas campanhas, eles vacinassem com as injeções das demais vacinas. Quase fui enxotado da sala, mas quatro horas depois todos concordaram. O argumento? O Fundo Nacional de Saúde, que eu só repassaria para quem vacinasse em massa com todas as vacinas.
Lembro do meu secretário conterrâneo me perguntando: "Onde é que aprendeste a chantagear com tanta fidalguia?".
Na primeira campanha, atingimos 80% de cobertura. Na segunda, uma fidalguia com o chefe de jornalismo da principal TV do Brasil, alcançamos 92%. E, da terceira em diante, não chegamos aos 100% porque as crianças não haviam nascido, me disse o diretor do Unicef no Brasil. Grandes campanhas de esterilização em massa faziam com que achássemos que existiam mais crianças do que na realidade.
Depois, em 30 dias, vacinamos 48.023.657 brasileiros contra o sarampo, e ficamos quase 30 anos sem a doença. E organizamos 38 mil salas de vacinação, treinamos milhões de agentes e passamos a ser considerados os melhores do mundo em vacinas.
Desde o início da pandemia, o número de casos de covid-19 passou de 8 milhões de brasileiros contaminados, e estamos atrás de mais de 50 países que já começaram a vacinar sua população. Mas o SUS está pronto, e o mais importante é a imprensa de novo fazer sua fidalguia, convencer 80% dos brasileiros de que a maior nobreza de todos os tempos é se vacinar, mesmo não sendo obrigatório.
Pediatra, diretor assistencial do IBSaúde e ex-ministro da Saúde alceniguerra@ibsaude.org.br